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quarta-feira, 12 de junho de 2013

Asé Natural !



Conceitos Yorúbá


 Objetivo do culto Yorubá é alcançar a “Consciência Divina.”
O corpo literário de Ifá é uma importante fonte de informações sobre o sistema de crença e valores Yorubas. Como porta voz de outras divindades, Ifá é depositário de todos os mitos e dogmas morais das outras divindades. O Povo Yoruba crê que Òrúnmìlá estava presente quando Olódùmarè (Deus todo poderoso) criou o céu e a terra. Portanto, Ifá conhece a história do céu e da terra e domina as leis físicas e morais com as quais Olódùmarè governa o universo. Por isso Òrúnmìlá é tido como sábio conselheiro, historiador e tutor da sabedoria divina. Por isso, entre seus nomes de honra está:

Akónilóran bí ìyekan eni,

Ogbón ile ayé,

Òpìtàn ilè ifè

Aquele que ensina alguém com sabedoria, como se fosse de sua família

A sabedoria da Terra,

O historiador da terra de Ifè

Os importantes conceitos filosóficos personificados no corpo literário de Ifá incluem o conceito de Orí (cabeça espiritual ou interior), ebo (sacrifício) e Ìwà Pèlè (bom caráter).

Esses três conceitos são muito relacionados e complementares entre si. Orí é a essência da sorte e a mais importante força responsável pelo sucesso ou fracasso humano. Além disso, Orí é a divindade pessoal que governa a vida e se comunica, em prol do indivíduo, com as demais divindades. Qualquer coisa que não tenha sido sancionada pelo Orí de uma pessoa, não pode ser aprovada pelas divindades. Isso que quer dizer a declaração encontrada em Ògúndá Méjì, Ifá diz:

Orí, pèlé,

Atèténíran;

Atètègbenikòòsà

Kò sóòsa tíí dá ‘ níí gbè léyìn orí eni. 

Orí, eu te chamo

Você que sempre abençoa rapidamente os seus.

Você, que abençoa o homem antes de qualquer òrìsá,

Nenhum òrìsá abençoa uma pessoa sem o consentimento de seu Orí.

Ebo (sacrifício) é uma forma de comunicação simbólica e ritual entre todas as forças do universo. Os yoruba acreditam que, além do próprio homem, existem duas grandes forças em oposição no universo, uma benevolente em relação aos seres humanos e outra hostil. As forças benevolentes são, coletivamente, conhecidas como ìbo (as divindades), e as malevolentes são conhecidas como ajogun[ii] (guerreiros opositores ao homem). As àjé (as bruxas) estão também em aliança com os ajogun para a destruição do homem e de sua obra. Os humanos necessitam oferecer sacrifício às duas forças para sobreviver. O Homem necessita oferecer sacrifício às forças benéficas para continuar gozando de seu apoio e bênçãos. Necessita também oferecer sacrifício aos ajogun e às àjé com o objetivo de não encontrar sua oposição quando estiver prestes a realizar algum projeto importante. 

A divindade que age como mediador entre as três partes mencionadas acima é Èsù, que partilha um pouco dos atributos das forças benéficas e maléficas. É o policial do universo. Além disso, é imparcial, uma vez que só irá dar apoio ao homem ou divindade que tenha feito sacrifício. Isso é o que quer dizer a afirmação: eni ó rúbo Èsù gbè.

Uma vez recebido o sacrifício prescrito, ele proibirá os ajogun de prejudicar o suplicante.

Èsù é o guardião do àse, semelhante à autoridade e o poder divino com os quais Olódùmarè criou o universo. Èsù é, conseqüentemente, o verdadeiro administrador do universo, o princípio da ordem e da harmonia e agente da reconciliação. Sua esposa, Agbèrù, recebe todos os sacrifícios em seu nome. Após tirar sua parte de aárùún (cinco búzios) e um pouco de todos os outros materiais oferecidos em sacrifício. Èsù leva as oferendas para as divindades ou os ajogun envolvidos. O efeito, normalmente, é a restauração da paz e a reconciliação entre as partes conflituosas.

Uma questão emerge imediatamente quando analisamos o que foi dito até agora.

Qual o papel reservado aos seres humanos no universo Yorubá, onde o indivíduo não pode agir de forma independente de seu Orí e está à mercê de dois poderosos conjuntos de forças sobrenaturais aos quais ele deve oferecer sacrifícios incessantemente para poder sobreviver.

O indivíduo realmente importa em tal sistema? É aí que o conceito de Ìwà pèlè entra. Juntamente com um conjunto de princípios menores como àyà e esè, o princípio de Ìwà pèlè, em certo grau, liberta o homem dessa estrutura de universo autoritária e hierárquica e de qualquer forma, provém a ele com um conjunto de princípios com os qual regular sua vida, com o intuito de evitar colisões com os poderes sobrenaturais e com seus companheiros humanos. Segue-se uma pequena descrição e interpretação do princípio de Ìwà relacionado com os as crenças dos Yorubas já citadas acima.

A palavra Ìwà é formada a partir da raiz verbal wà (ser ou existir) adicionada do prefixo deverbativo “i”. O sentido original de Ìwà pode, então, ser interpretado como “o fato de ser, viver ou existir”. Assim, quando Ifá fala de

Ire owó

Ire omo

Ire àikú parí ìwà,

O significado de ìwà nesse contexto é exatamente o referido acima.

Tenho a impressão de que o outro significado de ìwà (caráter, comportamento moral) é originário da utilização idiomática deste sentido léxico original. Se este for o caso, ìwà (caráter) é, portanto, a essência de ser. O ìwà de um ser humano pode ser usado para caracterizar sua vida, especialmente em termos éticos.

Além disso, a palavra ìwà (caráter) pode ser usada para se referir a ambos, bom e mau caráter. Para exemplificar de forma declarativa, alguém poderia dizer:

Ìwà okùnrin náà kò dára

O caráter do homem não é bom.

Ìwà okurin náàá dára

O caráter do homem é bom.

Mas, às vezes, a palavra ìwà pode ser usada para se referir unicamente ao bom caráter.

Obìnrin náàá ní ìwà

A mulher tem bom caráter.

Pode-se dizer também:

1- Ìwà pèlé (caráter bom, ou manso).

2- Ìwà búburú /buruku (mau caráter).

Este estudo é sobre Ìwà pèlé, que pode ser traduzido como caráter manso, gentil, ou, em um sentido amplo, bom caráter.

Como mencionado acima, ìwà é tido como um dos muitos objetivos da existência humana para o Yorubá.

Todo indivíduo deve empenhar-se para ter ìwà pèlé, com o objetivo se ser capaz de ter uma boa vida num sistema dominado por muitos poderes sobrenaturais e numa sociedade controlada pela hierarquia nas autoridades.

O homem que possui ìwà pèlé não colidirá com nenhum dos poderes, sejam humanos ou sobrenaturais e, desta forma, viver em completa harmonia com as forcas que governam o universo.

É por isso que o Yoruba tem ìwà pèlé como o mais importante de todos os valores morais e o maior de todos os atributos de qualquer homem.

A essência da prática da religião para o Yoruba consiste, assim, em empenhar-se em cultivar Ìwà pèlè. Isso é o que quer dizer o ditado: 

Ìwà Lèsin

(Ìwà é outro nome para a devoção religiosa)

No corpo literário de Ifá, ìwà é representada por uma mulher. Ogbè Alárá (Ogbe’sá), um dos ómó Odù Ifá diz que Ìwà era uma mulher de máxima beleza com a qual Òrúnmìlá se casou, após ela já ter se separado de diversas outras divindades. Apesar de sua beleza, Ìwà não tinha um bom comportamento.

Ela tinha péssimos hábitos e uma língua incontrolável. Além disso, ela era preguiçosa que sempre fugia de suas responsabilidades. 

Após eles estarem casados há algum tempo, Òrúnmìlá já não podia mais tolerar seus maus costumes. Assim, ele a mandou embora. Porém, quase imediatamente após ela sair de casa, ele se deu conta de que mal poderia viver sem ela. Ele perdeu o respeito de seus vizinhos e foi desprezado por sua comunidade. Além disso, todos os seus devotos o abandonaram e a prática da divinação não gerava mais lucros. Faltava-lhe dinheiro para gastar, roupas para vestir e outros utensílios necessários para que vivesse uma vida boa e nobre.

Cabe esclarecer que na Nigéria o cargo de Babalawo é um oficio.

Òrúnmìlá, então colocou sua roupa de Egúngún e saiu em busca de Ìwà. Ele visitou as casas dos dezesseis mais importantes chefes do culto à Ifá, porém, não encontrou sua esposa. Ele permaneceu do lado de fora da casa de cada um dos chefes e cantou a seguinte canção:

Sabedoria da mente, sacerdote de Ifá da casa de Alárá

Consultou Ifá para Alárá,

Apelidado de Ejì Òsá, (Osá meji)

Descendente daqueles que usam bastões de ferro para fazer trinta gongos.

Grande compreensão, sacerdote de Ifá de Ajerò

Consultou Ifá para Ajerò,

Descendente do homem valente que se recusa completamente a entrar em uma briga.

Onde você viu Ìwà, me diga

Ìwà, Ìwà, é a você que estou buscando.

Se você tem dinheiro,

Mas não tem um bom caráter,

O dinheiro pertence à outra pessoa.

Ìwà, Ìwà, é a você que estamos buscando.

Se alguém tem filhos,

Mas lhe falta bom caráter,

Seus filhos pertencem à outra pessoa.

Ìwà, Ìwà, é a você que estamos buscando.

Se alguém possui uma casa

Mas lhe falta bom caráter,

Sua casa pertence à outra pessoa.

Ìwà, Ìwà, é a você que estamos buscando.

Se alguém tem roupas,

Mas lhe falta bom caráter

Suas roupas pertencem à outra pessoa.

Ìwà, Ìwà, é a você que estamos buscando.

Todas as boas coisas da vida que um homem tiver,

Se lhe falta bom caráter,

Pertence a outra pessoa.

Ìwà, Ìwà, é a você que estamos buscando.

Após uma longa busca, Òrúnmìlá encontrou Ìwà na casa de Olójo que havia desposado ela novamente. Quando chegou à casa de Olójo, ele cantou a mesma cantiga e Olójo veio para o lado de fora para encontrá-lo.

Òrúnmìlá disse a ele que estava em busca de Ìwà, sua esposa, que o havia abandonado. Olójo se recusou a devolvê-la para Òrúnmìlá e uma disputa seguiu-se, na qual Òrúnmìlá atingiu Olójo com a pata de uma cabra com a qual havia feito sacrifício antes de sair de casa.

O impacto jogou Olójo a muitas milhas de distância. Òrúnmìlá, então, pegou sua esposa de volta, em paz. A história sobre ìwà contada acima é importante por diversas razões. Em primeiro lugar, é digna de nota que o símbolo de bom caráter seja uma mulher.

No folclore Yorùbá, a mulher representa os dois lados opostos do envolvimento emocional. As mulheres são símbolo do amor, cuidado, devoção, suavidade e beleza. Ao mesmo tempo é especialmente o poder ajè, símbolo da maldade, do endurecimento, desfaçatez e deslealdade.

Uma vez que ìwà é um atributo que pode ser tanto mau como bom (conforme explicado acima) somente as mulheres, às quais os Yorùbá lhe atribuem tal visão moral estereotipada, podem ser usadas como símbolo de ìwà.

Usando tal símbolo, o que Ifá quer que entendamos é que todo indivíduo deve tomar cuidado com seu caráter como toma conta de sua esposa. Assim como uma esposa pode ser um fardo para seu marido ou vice e versa, um bom caráter não pode ser um fardo para o justo e fiel, porém estes nunca devem se esquivar de sua responsabilidade.

As mulheres podem ser tidas como feiticeiras e mentirosas, porém o Yorùbá sabe que sem elas a sociedade humana não pode sobreviver.

Da mesma forma, o bom caráter pode ser difícil de possuir como atributo, porém se ninguém o tivesse, o mundo seria um lugar muito difícil de viver.

Em segundo lugar, é importante notar também que a própria Ìwà, é uma mulher que lhe falta um bom caráter e que se permitem péssimos hábitos. Isso significa que um homem que aspire ter bom caráter deve estar preparado para suportar aquilo que os Yorùbá chamam de ègbin (coisa suja ou indecente).

O homem que aspire ter bom caráter deve saber que algumas vezes se encontrará em situações desagradáveis, as quais ofenderam seu senso de dignidade e de decência. Ainda assim ele não deve se afastar do caminho do bom caráter sob pena de perder a própria essência e o valor da vida. 

O verso de Ifá citado acima compara ìwà com outras coisas valiosas que o homem também aspira conquistar – dinheiro, filhos, casas e roupas. Ifá posiciona ìwà acima de todas essas coisas de valor. Um homem que possua todas essas coisas, mas, que não tenha ìwà, as perderá rapidamente, provavelmente, para outro que tenha ìwà e que sabia cuidar de tudo isso. Ìwà é, portanto, o mais valioso bem entre tudo aquilo que é valioso no sistema de valores Yorùbá.

Outro verso de Ifá sobre ìwà, citado pelo Sr. Modupe Alade, em sua moradia, no Egbé Ijinlè Yorùbá (Sociedade Cultural Yorùbá), Lagos, em 31 de agosto de 1967 e publicado na revista de cultura Yorùbá, Olókun nº8, de agosto de 1969, se diferencia em alguns detalhes significantes do visto anteriormente. O seguinte é extraído desse poema: 

Se pegarmos um objeto de madeira rágbá e batermos com ele numa cabaça,

Vamos saudar Ìwà 

Se pegarmos um objeto de madeira rágbá e batermos com ele numa cabaça,

Vamos saudar Ìwà 

Se pegarmos um objeto de madeira rágbá e batermos com ele numa pedra,

Vamos saudar Ìwà

Ifá foi consultado para Orunmilá,

Quando nosso pai ia se casar com Ìwà.

Era a primeira vez que Òrúnmìlá se casava com uma mulher,

Ìwà foi com quem ele casou,

Ìwà mesma

Era filha de Sùúrù (paciência).

Quando Òrúnmìlá propôs casamento a Ìwà,

Ela disse que estava de acordo.

Ela disse que se casaria com ele.

Mas que havia uma coisa que ele deveria observar.

Ninguém deveria mandá-la embora de seu lar nupcial.

Mas ela não deveria ser usada de forma descuidada, como alguém usa a água da chuva.

Ninguém deveria puni-la desnecessariamente.

Òrúnmìlá exclamou:

Deus não permita que eu faça tal coisa.

Ele disse que cuidaria dela.

Disse que a trataria com amor,

E que a trataria com gentileza.

Então, ele casou com Ìwà.

Após um longo tempo,

Ele se tornou infeliz com ela.

Então começou a perturbar Ìwà.

Se ela fizesse uma coisa,

Ele reclamava que ela havia feito de forma errada.

Se ela fizesse outra coisa,

Ele também reclamaria.

Quando Ìwà percebeu que aquilo era demais para ela,

Disse:

Tudo bem.

Voltou para a casa de seu pai.

Seu pai era o primogênito de Olódùmarè.

Seu nome era Sùúrù, o pai de Ìwà.

Ela, então, reuniu seus utensílios em uma cabaça,

E partiu para sua casa.

Ela foi para o òrun.

Quando Òrúnmìlá retornou, disse:

Saudações ao povo de dentro de casa.

Saudações ao povo de dentro de casa.

Saudações ao povo de dentro de casa.

Porém Ìwà não apareceu.

Nosso pai então perguntou por Ìwà.

Os outros habitantes da casa disseram que não a viram.

“Onde ela foi? Foi ao mercado? Ela foi a algum lugar?”

Ele perguntou isso durante muito tempo, até que juntou dois búzios com três,

E foi para a casa de um sacerdote de Ifá.

Disseram a ele que ela havia fugido.

Ele foi aconselhado a ir e encontrá-la no lar de Alárá.

Quando ele chegou à casa de Alárá, disse:

Se pegarmos um objeto de madeira rágbá e batermos com ele numa cabaça,

É Ìwà que buscamos.

Vamos saudar Ìwà.

Se pegarmos um objeto de madeira rágbá e batermos com ele numa cabaça,

É Ìwà que buscamos.

Vamos saudar Ìwà.

Se pegarmos um objeto de madeira rágbá e batermos com ele numa pedra,

É Ìwà que buscamos.

Vamos saudar Ìwà.

Alárá, você viu Ìwà, diga-me?

É Ìwà que buscamos.

Ìwà?

Alárá disse que não havia visto Ìwà.

Nosso pai foi, então, para a casa de Òràngún, rei da cidade de Ilá

Descendente de um pássaro com muitas penas.

Ele perguntou se Òràngún tinha visto Ìwà.

Mas Òràngún disse que não tinha visto.

Mal havia outros lugares onde procurar.

Após muito tempo,

Ele voltou,

E indagou a seus instrumentos divinatórios.

Ele disse que procurou por Ìwà na casa de Alárá.

Ele a procurou na casa de Ajerò,

Ele a procurou na casa de Óràngún.

Ele a procurou na residência de Ògbérè, sacerdote de Ifá de Olówu,

Ele a procurou na residência de Àséégbá, sacerdote de Ifá de Ègbá.

Ele a procurou na residência de Àtàkúmòsà, sacerdote de Ifá de Ìjèsà.

Ele a procurou na residência de Òsépurútù, sacerdote de Ifá de Rémo

Mas eles disseram que Ìwà tinha ido para o òrun.

Ele disse que iria lá e a traria de volta.

Eles disseram: tudo bem,

Providenciaram para que ele realizasse sacrifício.

Disseram a ele que oferecesse uma rede,

E desse mel a Èsù.

Ele ofereceu o mel em sacrifício a Èsù.

Quando Èsù provou o mel,

Disse:

O que é isso que é tão doce?

Òrúnmìlá, então, entrou em sua roupa de Egúngún,

E foi para o céu.

E começou a cantar novamente.

Èsù fez um jogo de desfaçatez,

E foi para onde Ìwà estava.

Ele disse:

Um homem chegou ao céu,

Se você ouvir sua canção,

Ele diz tais e tais coisas…

É você que ele está procurando…

Ìwà então partiu (de seu esconderijo),

E foi os encontrar no local onde cantavam.

Òrúnmìlá estava em sua roupa Egúngún.

Ele viu Ìwà através da rede da roupa.

Ele a abraçou.

Aqueles que transformam a má sorte em boa, então, abriram a roupa.

Ìwà, porque você se portou de tal maneira?

Deixou-me na Terra e foi embora.

Ìwà disse:

É verdade.

Ela disse que foi por causa da forma que ele a maltratou

Que ela fugiu.

Para que ela tivesse paz em sua mente.

Òrúnmìlá então implorou para, por favor,

Que ela tivesse paciência com ele.

E voltasse com ele.

Mas Ìwà se recusou,

Mas disse:

Tudo bem

Ela ainda podia fazer alguma coisa.

Ela disse:

Você, Òrúnmìlá,

Volte para a Terra

Quando você chegar lá,

Todas as coisas que eu disse para que você não fizesse,

Não tente fazer.

Comporte-se muito bem.

Comporte-se com bom caráter.

Cuide de sua esposa,

E cuide de seus filhos.

De hoje em diante, você não colocará mais os olhos em Ìwà.

Mas eu estarei com você.

Mas, o quer que você faça para mim,

Irá determinar quão ordenada será sua vida.

O verso de Ifá relatado acima confirma o anterior em alguns aspectos. Em ambos Ìwà é uma mulher e foi esposa de Òrúnmìlá.

Além disso, em ambas as histórias, Òrúnmìlá teve que ir procurar por Ìwà depois que ela o deixou.

A canção que Òrúnmìlá cantou em ambos os poemas, enquanto buscava Ìwà é, em certo grau, similar. Apesar disso tudo, os poemas são diferentes.

O segundo poema diz que Ìwà é filha de Sùrùú (paciência) que foi o primogênito de Olódùmarè.

Esse detalhe fundamental falta ao primeiro poema e, portanto é necessário ressaltá-lo e cabe investigação.

O segundo poema liga Ìwà com Paciência e também com o próprio Deus.

O significado disso é que o homem, para obter o bom caráter, deve em primeiro lugar, ter paciência.

É por isso que temos o ditado:

Sùrùú ni baba ìwà (Paciência é o pai do bom caráter).

De todos os atributos que um homem com bom caráter deve ter, paciência é o mais importante se todos porque a pessoa que é paciente terá tempo para meditar sobre as coisas e sempre chegar a justas e honestas conclusões. Devemos, então, ser paciente com as pessoas e aprender a ser tolerantes para podermos ter bom caráter.

Se Òrúnmìlá tivesse aprendido a ser paciente, ele não teria perdido sua esposa Ìwà.

O segundo poema liga Ìwà com Olódùmarè, que, na história, é seu avô.

O significado disso é muito claro.

Significa que Olódùmarè é a personificação do bom caráter.

Ele, então, espera que os seres humanos também tenham bom caráter. É um pecado contra a divina lei de Olódùmarè que qualquer um se desvie do caminho do bom caráter. A pessoa que fizer isso será punida pelas divindades a menos que ofereça sacrifício, o qual mostrará que se arrependeu e restaurará a paz e a harmonia na desgastada relação que seu desvio cria entre a pessoa e as forças sobrenaturais. Isso, então, é a razão pela qual o Yorùbá tem o bom caráter como à essência da religião.

O corpo literário de Ifá pode, então, ser tomado como um conjunto de poemas míticos e históricos que nos oferece, através do uso da analogia, imagens e símbolos, o que se deve fazer no intuito de estarem em paz com Deus, as forças sobrenaturais, nossos vizinhos e em verdade, consigo mesmo.

Todos esses preceitos e advertências podem ser reduzidos a um pensamento: Atenha-se fortemente ao cultivo do bom caráter para que sua vida seja boa.

O conceito Yorùbá de existência transcende o tempo do indivíduo na Terra.

Vai além de sua época e inclui as memórias que o homem deixa após sua morte. Portanto, é fundamental ser um homem de bom caráter para que deixe boas lembranças quando se for.

Em uma sociedade que eleva os mortos a condição de ancestrais e que armazena homenagens a eles em sua arte verbal, a única recompensa durável para o homem de bom caráter reside nos poemas, nas máscaras e nas cerimônias anuais que serão feitas em sua homenagem após morte.

A importância posta, pelos Yorùbá, no princípio de ìwà mostra que as religiões tradicionais africanas são baseadas em profundos valores morais que sustentam as crenças inerentes a essas religiões.

Freqüentemente, ouvimos dos seguidores ignorantes do Cristianismo e do Islã, que as religiões tradicionais africanas não são baseadas em nenhum valor ético.

Nada pode ser mais distante da verdade.

O princípio de ìwà mostra que as religiões Tradicionais africanas estão baseadas em profundas e significativas idéias filosóficas.

Por: Wande Abimbola.